AVC: identificação dos sinais salva vidas e diminui sequelas

30 de outubro de 2023 - 16:00 # # # # # # #

Assessoria de Comunicação do Samu 192 Ceará, UPas, HGWA e HRSC
Texto: Marcela Belchior, Márcia Catunda, Bruno Brandão e José Avelino Neto
Fotos: Fátima Holanda, Bruno Brandão e Hiane Braum (Casa Civil)

“Samu”: Sorriso, Abraço, Mensagem, Urgência. Não é apenas uma coincidência. A sigla criada para facilitar a identificação em casos de suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma referência direta ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192), que está na linha de frente do combate à mortalidade e minimização de sequelas em pacientes acometidos por essa emergência médica. No último dia 29 de outubro, foi celebrado o Dia Mundial do AVC, e a data é um convite para discutir sobre a melhor maneira de se prevenir e de proceder para garantir o socorro imediato e adequado nesses casos.

O código reflete a seguinte orientação: em caso de suspeita de AVC, é importante verificar se a pessoa que apresenta sinais e sintomas consegue dar um sorriso e um abraço sem que suas capacidades motoras e musculares estejam afetadas, assim como se consegue falar e compreender uma mensagem sem dificuldades motoras e cognitivas. Caso contrário, o Samu 192 Ceará deve ser acionado com urgência.

No equipamento da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), os casos de AVC representam o maior número de ocorrências atendidas. Somente em 2022, o Serviço atendeu 3.674 casos, uma média de 306 por mês. Neste ano, no período compreendido entre janeiro e outubro, esse número também já soma mais de três mil atendimentos em todo o Estado.

No Samu 192 Ceará, os atendimentos a casos de AVC representam o maior número de ocorrências

O diretor técnico do Samu 192 Ceará, o médico intervencionista e regulador Luciano Quental, destaca que o atendimento pré-hospitalar está focado na identificação precoce dos sintomas e na remoção do paciente por meio de uma ambulância a um centro de referência para que seja realizado um tratamento específico. Durante o transporte, a realização de medidas emergenciais é essencial para dirimir a mortalidade dos pacientes e evitar maiores danos cerebrais.

Uma vez que o AVC é uma patologia que se agrava exponencialmente a cada minuto, é a rapidez de chegada da equipe assistencial à vítima que determina as possibilidades de sucesso no socorro e tratamento no paciente. “Uma vez que sejam identificados os sintomas e que a população não atrase o chamado [ao número 192], a gente faz a remoção o mais rápido possível, com a maior segurança possível, oferecendo suporte nesse trânsito”, explica Quental.

“Quanto mais precocemente a gente realizar a intervenção, a abordagem, melhor vai ser o prognóstico daquele paciente, tendo em vista a menor quantidade de sequelas”, alerta. Após o atendimento pré-hospitalar emergencial, o tratamento do AVC é realizado em centros hospitalares de atendimento de urgência, que exercem um papel de referência no acompanhamento e recuperação dos pacientes.

Ao identificar sinais e sintomas de AVC, é fundamental ligar com urgência para o 192

Informação e prevenção

Estar informado é fundamental para prestar o socorro adequado. “A primeira coisa que todos precisam saber é que o AVC acontece ‘de repente’ ou subitamente”, destaca Aparecida Rocha, enfermeira do Samu 192 Ceará. “A pessoa estava bem e ‘de repente’ a boca entorta, o braço ou a perna perdem a força e/ou a fala fica alterada”, descreve.

O diretor de Educação Permanente do Samu 192 Ceará, o médico emergencista Yury Tavares, explica por que cada minuto conta: “o AVC é uma condição onde falta fluxo de sangue e oxigênio para uma parte do cérebro, e isso significa que, quanto mais tempo o evento está acontecendo, mais partes do cérebro morrem, o que pode deixar sequelas irreversíveis”, diz. “Quanto mais rápido essa condição é tratada e revertida, menos sequelas se instalam, podendo, inclusive, se tratado rapidamente e adequadamente, não deixar sequelas. Assim como no infarto, no AVC tempo é vida”, alerta.

Além disso, há maneiras de se prevenir e manter o organismo menos propenso a sofrer esse tipo de emergência médica. “Muitos dos fatores de risco para o AVC são preveníveis, e a falta dessa informação faz com que as pessoas não busquem mudá-los. A hipertensão e a diabetes são fatores de risco, que podem ser controlados com medicações e, assim, reduzir as chances de um AVC”, alerta Tavares.

“Existem muitas dúvidas quanto ao assunto e, quanto mais se fala nele, mais a população lembrará que ele existe, sim, e ainda responde por um alto número de casos graves, que levam ao óbito ou a incapacidades permanentes”, afirma Tavares. “Dentre os principais fatores, podemos listar a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, o tabagismo, o sedentarismo e a obesidade. São fatores de risco preveníveis e tratáveis. Portanto, que podem reduzir o número de casos de AVC”, recomenda o médico.

UPAs implantam protocolo para otimizar atendimento de pacientes com suspeita de AVC

Também partindo da informação de que o paciente com suspeita de AVC precisa de atendimento em tempo hábil para aumentar as chances de sobrevivência, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Rede Sesa implantaram o Protocolo Unificado do Manejo do AVC (PUMA) para otimizar o atendimento e tratamento do paciente.

O protocolo foi iniciado em 2017, o que logo apresentou resultados para a sociedade e levou ao maior engajamento dos profissionais nas UPAs, que reconheceram sua efetividade dentro da rede de urgência e emergência. O PUMA é voltado para o AVC agudo, que é o tipo mais comum e com sintomas percebidos em menos de 24 horas.

“O processo conta com uma equipe multiprofissional da unidade que é treinada desde o recepcionista até ao médico, todos com habilidades para reconhecimento dos sinais do AVC, garantindo uma maior expectativa de vida para o paciente”, explica Tarcilyo Esdras, diretor-clínico das UPAs da Rede Sesa.

Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) se utilizam do Protocolo Unificado do Manejo do AVC (PUMA) para otimizar o atendimento e tratamento do paciente

Entre os resultados positivos do PUMA estão a redução do tempo de permanência, aumento da quantidade de tratamentos de AVC (trombólises) e assertividade no diagnóstico clínico.

“O PUMA é um grande avanço na assistência, afinal permite diagnóstico rápido do AVC e que o paciente receba medicação em tempo hábil. Dessa forma, HGF e Samu 192 Ceará são informados dos protocolos das UPAs e passam a otimizar tempo no tratamento, o que é fundamental para salvar a vida do paciente que iniciou seu atendimento na UPA, pois as três unidades estão bem treinadas e alinhadas sobre o processo”, explica Patrícia Santana, médica emergencista e diretora de cuidados e saúde das UPAs.

Protocolo aplicado nas UPAS otimiza tempo no tratamento

Ala de AVC do HGWA atua na reabilitação dos pacientes

O Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), unidade da Sesa no bairro Messejana, possui uma ala direcionada para receber pacientes acometidos por AVC. Na unidade, os pacientes regulados recebem desde as medicações iniciais para o tratamento até a reabilitação.

Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA) possui uma ala direcionada para receber pacientes acometidos por AVC

A coordenadora médica das clínicas do AVC, Joyce Benevides, explica que a unidade do HGWA é subaguda, ou seja, formada por pacientes que já tiveram o AVC, foram encaminhados para a emergência e chegam via Central de Regulação da Sesa. Eles já passaram da fase aguda dos primeiros dias e, em sua maioria, são pacientes que chegam após até 72h do evento. No HGWA, eles recebem o complemento da investigação do mecanismo do AVC. Entre os principais objetivos está a escolha da medicação adequada para evitar um novo AVC.

“Eles são avaliados pela equipe multidisciplinar, aqui contamos com fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, farmacêutico e, dependendo do diagnóstico, já é iniciada a parte da reabilitação, tanto da parte motora, como da fala e da alimentação”, explica a médica.

A média de idade é entre 60 e 70 anos, mas pacientes mais jovens também são recebidos. “Fazemos todo o acompanhamento, com início da reabilitação e, se necessário, continuamos o tratamento após a alta em casa, com especialista a depender do tipo de AVC”, pontua.

Coordenadora médica das clínicas do AVC do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), Joyce Benevides, explica como funciona a ala

Humanização e minimização de mortes por sequelas

No interior do Ceará, um dos trabalhos de maior destaque no tratamento do AVC é realizado no Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim. Nos últimos cinco anos a taxa de morte atribuída às sequelas de AVC na região caiu 23,1% após a chegada do serviço, uma taxa que se assemelha a de países desenvolvidos.

Dentro da proposta de regionalização da saúde, a UAVC do HRSC possui metodologias de destaque como o tempo de porta-tomografia (tempo entre a chegada do paciente e a realização da tomografia) e o tempo porta-agulha (intervalo de tempo entre a chegada do paciente e o início da medicação), que são melhores do que a média mundial. Um paciente já chegou a receber o medicamento trombolítico em apenas oito minutos depois de chegar ao hospital. A recomendação é que esse tempo seja menor do que 4h e 30 minutos.

Iniciativas como estas, somadas aos projetos desenvolvidos na linha do cuidado e humanização da assistência, já garantiram ao setor 14 prêmios Angels, iniciativa internacional da Boehringer Ingelheim para qualificar centros de AVC com métodos de excelência.

Sendo referência para os 20 municípios da região e otimizando números de pacientes recuperados, o trabalho da UAVC do HRSC evidencia um resultado importante, fruto de engajamento e conhecimento da equipe, como explica o médico neurologista da Unidade de AVC, Alan Cidrão. “Esses resultados se deram mediante o estabelecimento de um efetivo fluxo de atendimento ao paciente com suspeita de AVC, que elimina etapas desnecessárias e engaja os diversos profissionais envolvidos no cuidado do paciente de forma dinâmica e segura”, pontua.

Serviço

Em caso de suspeita de AVC, é fundamental ligar de imediato para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu 192 Ceará).